O Centro Social Paroquial de Pedrogão

 Fundação

Foi a 19 de Março de 1950 que nasceu esta Instituição.

O 1º impulsionador foi o pároco de então, o Padre Abilio Vieira que tendo chegado ao Pedrogão em Outubro de 1949 viu como era dificil a vida de tantas familias, muitas delas com muitos filhos, sem o apoio e presença do pai, porque muitos homens iam trabalhar para Lisboa sobretudo nas obras.

As pessoas viviam quase só da agricultura; o trabalho do campo exigia muito esforço e nem sempre garantia a satisfação das necessidades mais vitais; não existiam ainda os recursos minimos de água canalizada, eletricidade, estradas e saneamento básico.

O país ainda sofria as consequências duma guerra que atingiu toda a Europa durante seis anos (1939-1945).

 

O pároco lança-se em actividades para arranjar fundos; as fogueiras de S.João com a rifa de um cabrito, uma verbena animada pela Filarmónica Pedroguense, récitas feitas pelas raparigas e rapazes da Acção Católica em Pedrogão e noutras terras vizinhas, peditórios em Lisboa etc

Numa casa emprestada por uma familia da terra (Dr Manuel Durão) deu-se inicio á fundação do Centro Social Paroquial de Pedrogão, no dia 19 de Março de 1950.

Foi no dia da festa de S. José e a ele lhe foi confiado.

Uma comissão constituida por vinte pessoas, e o apoio de muita gente da terra e de fora da terra, promovia e recolhia os fundos para fazer face ás despesas.

É de referir a disponibilidade e generosidade de homens e mulheres que iam a Lisboa recolher ofertas dos Pedroguenses que lá viviam.

A 9 e 10 de Setembro de 1951 realiza-se o 1º cortejo de Oferendas a favor do Centro, que teve a colaboração e empenho de todos os lugares da freguesia; esta iniciativa manteve-se até meados dos anos “60” alguns deles com a presença do Presidente da Camara de Torres Novas. 

Era uma obra para todos que vivia dos poucos recursos de todos.

Hoje, 66 anos depois, continua a ser uma Instituição prestigiada e reconhecida, quer na terra quer junto das Entidades do País.

 

 

Actividades

Uma sopa diária para os mais necessitados, feita dedicamente pela Sra Ludovina, um acolhimento pré-escolar a crianças com a colaboração da Miseca, e o espirito de serviço da Menina Maria Vitória e da Menina Mercês no ensino da costura ás raparigas, foi assim o inicio do Centro. A boa vontade de todos ajudou a fazer crescer esta Instituição, quer servindo os que mais precisavam, quer ajudando ao crescimento humano e cultural da população da freguesia.

O Centro não recebia qualquer apoio financeiro de caracter regular dos Serviços Públicos.

As rapariguinhas mais crescidas tambem ajudavam a Sra Ludovina na cozinha e as pequeninas iam aprendendo a crescer, brincando e fazendo pequenos trabalhos.

Tudo o que o Centro podia fazer era realmente muito pouco em relação ás necessidades desse tempo mas recordo aqui uma frase de um dos párocos do Pedrogão: “não importa o que temos para dar, o importante é dar com amor” e na realidade era com amor que se procurava viver e ensinar a viver.

 

 

O Novo Centro

Depois da modesta casa onde nasceu o Centro foi possível, com muito trabalho do pároco e de toda a comunidade, (a que vivia na freguesia, a que vivia em Lisboa ou que tinha ido para a Africa), comprar em 1953, por 90.000 escudos, (mais 20.000 escudos da horta) uma velha casa solarenga que com algumas adaptações e melhoramentos se tornou o novo Centro. Era uma casa antiga, bonita, grande, bem situada no centro da terra, com terreno á volta

 

No dia 24 de Junho de 1953, festa de S. João Baptista, padroeiro de Pedrogão, deu-se inicio na nova sede ás actividades do Centro.

Em Julho desse ano faz-se na praia de Pedrogão a 1ª colónia de férias (15 dias) para crianças.

 

Em 21 de Agosto de 1955, é grande festa da benção e inauguração do Centro pelo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D.Manuel Gonçalves Cerejeira, e, no mesmo dia a abertura de um posto médico no Centro, um novo serviço de apoio á população.

Acerca deste acontecimento escreve o “Serra d’Aire:

“Lavra por toda a freguesia uma onda de entusiasmo como jamais se viu. Não se poderá descrever sem perigo de diminuição, os sentimentos da nossa boa gente que de um extremo ao outro da freguesia se prepara com afã e vibrante satisfação para receber o Senhor Cardeal Patriarca“

e a terminar diz ainda o “Serra d’a Aire”as palavras do Senhor Cardeal:

“Confesso-vos que estou encantado, encantado logo desde que cheguei á vossa terra. Tanta gente, tão alegre, toda em festa…aquele esplêndido cortejo, que lindas flores, que primor de preparação, que generosidade de dons, que perfeição de organização…

Eu vim ao Pedrogão porquê? Queria dizer á freguesia de Pedrogão pessoalmente os meus parabens…, queria trazer ao prior a minha palavra de apreço, de reconhecimento, de apoio…haveria ainda uma razão, a dos excelentes padres que desta freguesia tem saído…”

 

“O Serra d’Aire”

Outro acontecimento que foi acolhido com entusiasmo em toda a freguesia foi o “nascimento” do Jornal “Serra d’Aire” em Março de 1952, criado e mantido pelo Padre Abílio, que ao longo de 16 anos, constituiu um elo de ligação entre todos os pedroguensese e um grande estimulo na valorização da solidariedade e generosidade de todos para o bem da terra, quer vivessem em Pedrogão ou em Lisboa ou em África.

 

As Décadas dos anos “60” e “70” do sec. vinte

O mundo, a sociedade e a vida das pessoas vai sofrendo mudanças.

Há melhoramentos na terra, nas estradas e nos transportes, muitas familias emigram para os países da Europa destruidos pela guerra em busca de melhores condições de vida.

Abrem-se escolas para alargamento do ensino primário obrigatório; quando abriu a Escola Técnica em Torres Novas em 1963 matricularam-se 1050 alunos.

A situação económica do país começa a sentir alguma melhoria que se reflete tambem em Pedrogão, começa a haver trabalho em novas fábricas que vão surgindo no concelho e arredores, a Fábrica do papel da Renova, na vizinha freguesia da Zibreira e as Fábricas de confecções de malhas em Minde.

Há a inauguração da rede elétrica na terra em 6 de Janeiro de 1963, a distribuição do correio a domicilio em1965.

O Centro desenvolve actividades de valorização de tempos livres para crianças e adolescentes e cursos de costura e bordados para raparigas e mulheres.

 

A 10 de Maio de 1956 o Centro passou a ter existência juridica como pessoa colectiva de utilidade pública e em Junho foi a aprovação dos primeiros estatutos pelo Subsecretário de Assistência Social.

 

A população da freguesia em 1960 é de 2495 habitantes

O pároco de Pedrogão, Padre Júlio Ambrózio, de 1961 a1981, mantem e desenvolve a acção do Centro com igual dedicação,empenhando-se em tudo o que pudesse constituir um benefício para a população.

Nos finais dos anos sessenta já o Padre Júlio se preocupava em melhorar as condições das pessoas que trabalhavam no Centro, quer através do contributo das familias, quer através de subsidios dos Serviços Oficiais para compensar o trabalho e a generosidade dos que mantinham todas as actividades.

Quando se tornou obrigatório o regime de contratos foram legalizadas todas as situações dos trabalhadores.

 

Em 1971 são alcatroadas as ruas de Pedrogão.

Em 16 de Julho de 1975 é criada a Diocese de Santarem onde fica integrada a freguesia do Pedrogão e em 4 de Outubro, dia de S. Francisco, é sagrado o primeiro Bispo de Santarem, D. António Francisco Marques (frade da Ordem Franciscana) que se manteve á frente da diocese até á sua morte em 1997. Reconhecida pela sua acção a diocese promoveu e inaugurou a sua estátua no largo da Sé.  

 

As Décadas de “80” e “90”

Com a entrada de um novo pároco em 1981, Padre João Gonçalves, (como os anteriores, era simultaneamente o director do Centro), e o novo contexto socio económico, cultural e politico do país após 1974, iniciou-se uma nova etapa.

O Pedrogão encaminha-se para um progresso e desenvolvimento que justamente ambicionava.

As estradas e caminhos da terra são alcatroados, há contentores para o lixo, há rede de esgotos e saneamento básico, e há distribuição de água a domicílio a partir de 1985.

Os jovens continuam os estudos para o secundário e muitos para a universidade, o que anos atrás era impossível.

Os emigrantes dos países da Europa começam a regressar a Pedrogão, trazendo o seu contributo para a economia da terra com as suas poupanças, o seu trabalho e a experiência adquirida.

Aumenta a construção de novas habitações (o parque habitacional tinha estado parado cerca de 40 anos) e reparam-se ou melhoram-se outras, quer de residentes, quer dos pedroguenses que vivem em Lisboa, mas que mantêm uma forte ligação á terra.

A fábrica de papel da Renova aumentou a sua actividade, sendo um dos maiores suportes económicos das familias, como entidade empregadora de homens e mulheres.

A população da freguesia mantem-se estável, segundo o censo de 1991.

Em relação ao Centro a acção do Padre João Gonçalves foi notória sobretudo em dois aspectos:

- O Centro é reconhecido como Instituição Particular de Solidariedade Social com recurso a técnicos especializados e comparticipações financeiras para as actividades de caracter educativo.

- Na criação de serviços de apoio a idosos, como forma e meio de retardar os efeitos dos anos, sobretudo quando vivem isolados ou com poucas forças e ânimo para realizar as suas actividades diárias.

 

Em 1 de Janeiro de 1982 faz-se o Acordo com o Centro Regional de Segurança Social de Santarém para a valência de Actividades de Tempos livres (A. T. L.) para 50 crianças de idade escolar, permitindo assim, com a comparticipação dos pais, o pagamento das funcionárias e a melhoria técnica das actividades.

Em 29 de Setembro de 1983 é feito o acordo para a valência de Jardim de Infância para 40 crianças, com a exigência dos Serviços Públicos de ter uma educadora na direcção técnica. O Padre João convidou a Comunidade das Irmãs de S. João Baptista e de Maria Rainha (congregação nascida na Alemanha em 1919 e fundada em Portugal em 1956) para assumirem esse encargo. As irmãs instalaram-se em Pedrogão em 23 de Outubro de 1983.

O aumento de esperança de vida da sociedade portuguesa, que se reflete tambem em Pedrogão, leva a criar e desenvolver um trabalho de apoio a idosos, quer os que tenham algumas dificuldades de se bastar a si próprios mas tambem para os que vivam mais sozinhos para quem o convivio, a distração e a ocupação em algumas actividades, pode contribuir para retardar o envelhecimento. 

Em Dezembro de 1989 o Centro faz um acordo com a Segurança Social para apoio ao Centro de convivio para 30 idosos.

Em Dezembro de 1993 faz-se o acordo para duas novas actividades de apoio á população idosa, o Centro de Dia e o Serviço de Apoio Domiciliário, cujas instalações tinham sido solenemente inauguradas em 20 de Novembro, pelo Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Dr João Pereira Reis.

 

A Década de 2000

Com a saída do padre João Gonçalves em 1994 e a entrada do padre João Guerra, o Centro continua na sua missão de contribuir para o melhor desenvolvimento da terra e melhoria de condições de vida dos seus habitantes. 

No ano 2000 o Centro festeja solenemente os 50 anos da sua criação com a presença e a participação de muitas das pessoas que o iniciaram e lhe deram muito da sua vida. Entre elas, o fundador Padre Abílio Vieira, que então jovem prior, que, com alma e dinamismo, soube responder ás carências de ordem material e social que, na altura eram bem reais.

 

O envelhecimento progressivo faz ressaltar a necessidade de um lar para idosos que precisem de apoio permanente.

Em 18 de Abril de 2004 é o lançamento da 1ª pedra para a sua construção. 

Mais uma vez o Pedrogão se lança nesta nova iniciativa.

O Padre João Guerra é um dos grandes impulsionadores.

Em 29 de Dezembro de 2004, festa liturgica da Sagrada Família, é a benção e a inauguração do Lar; um baixo-relevo colocado no átrio do edificio fica a atestar o desejo de confiar todos os que lá vivem e trabalham á protecção da Sagrada Familia de Nazaré

O novo pároco, o Padre Mário Taglialatela, recorda nesse dia:

“dar assistência ao mais necessitado é antes de mais receber; é um dar que se transforma em receber…no lar, nós somos José e Maria que cuidam do menino pobre de Belém”

 

O Lar com lotação para 49 pessoas tem procurado responder ás situações mais graves de idosos que vivem sós sem condições para viverem nas suas casas.

O aumento de esperança de vida e o número de idosos que precisam de lar vai sendo cada vez maior.

Nestas circunstâncias o Centro lançou-se noutra nova realização, a compra duma moradia ao lado e adapta-la para um alargamento da lotação.

Mais uma etapa do crescimento do Centro, mais uma resposta para uma nova necesssidade.

A paróquia mobiliza-se e mais uma vez com o apoio de entidades oficiais foi possível concretizar esta nova aspiração.

Actualmente o número de idosos abrangidos pelas diversas actividades do Centro, lar, centro de dia e apoio domiciliário, é de 175.

 

Não podemos saber a evolução do país e do mundo para as próximas décadas.

Certamente que vamos sofrendo contínuas mudanças e transformações em cada época,  em cada tempo e em cada região, que nos vão exigindo novas iniciativas e novas reformas para os novos problemas.

São as pessoas e as instituições de apoio social que, em cada tempo e lugar, tem a missão de responder e colaborar na construção contínua da solidariedade.

O Centro tem sido no Pedrogão esse construtor e tem sabido assumir essa responsabilidade.